Competições universitárias em Mobilidade: experiências reais revelam talentos e impulsionam a empregabilidade
A atual Analista de Desenvolvimento de Produto da Embraer sempre foi determinada. Ao ingressar no curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da USP, aos 19 anos, Gabrielly Ferreira Gama não sabia se seguiria na área de Elétrica ou migraria para a Mecânica, mas tinha a certeza de que se envolveria com projetos de desenvolvimento. “Ao andar pelos prédios da Escola, você vê robozinhos brigando em um canto, e do nada passa um protótipo de veículo sendo testado. A Poli é famosa pelos projetos de extensão, e, logo na recepção dos novos alunos, me deparei com o projeto do Fórmula, imponente e diferente de tudo que estava sendo apresentado. Foi ali que minha vida mudou”, relembra Gabrielly.
Era o ano 2018, e o então capitão do Poli Racing de Fórmula SAE, aluno Vinícius D’Agosto, se aproximou de Gabrielly e comentou que precisavam de participantes da área de Elétrica, convidando-a a se inscrever no projeto. Gabrielly estudou cautelosamente as opções e se inscreveu nas atividades que envolviam também a parte mecânica, visando ajudá-la a definir sua futura carreira de engenheira. Ainda como caloura, foi escolhida para atuar no subsistema de freios do projeto Fórmula da SAE Brasil.
“E eu lembro que, no meu primeiro ano, demorei a entender o que era uma equipe, como era participar de uma competição e o quanto de dedicação seria necessário. Brinco que demorei para me apaixonar pelo time, pela equipe. Durante a competição de 2018, tive um estalo. Falei para mim mesma: ‘A gente precisa virar o jogo, a gente precisa fazer essa equipe ganhar’”.
No segundo ano, Gabrielly competiu pela primeira vez como inscrita e coordenadora dos projetos de freio e pedaleira. “Eu acho que foi a primeira vez que a pedaleira obteve p melhor desempenho no break test e, para mim, foi uma conquista gigante! Lembro do professor Marcelo Alves parabenizando minha mãe, que me acompanhava na competição. Foi um reconhecimento incrível, porque é para isso que você trabalha o ano inteiro: para se sair bem. E, naquele ano, conseguimos cumprir a meta de freios, mesmo sob muita pressão, e eu, vivenciando o papel de coordenadora”.

No segundo ano, Gabrielly competiu pela primeira vez como inscrita e coordenadora dos projetos de freio e pedaleira. “Eu acho que foi a primeira vez que a pedaleira obteve o melhor desempenho no break test e, para mim, foi uma conquista gigante! Lembro do professor Marcelo Alves parabenizando minha mãe, que me acompanhava na competição. Foi um reconhecimento incrível, porque é para isso que você trabalha o ano inteiro: para se sair bem. E, naquele ano, conseguimos cumprir a meta de freios, mesmo sob muita pressão, e eu, vivenciando o papel de coordenadora”.
Apesar das dificuldades naquela competição, que impediram uma boa qualificação, Gabrielly aprendeu o significado da palavra resiliência. “Sentada no chão, observando o carro e refletindo sobre o que não deu certo no projeto como um todo, decidi inverter meus pensamentos e frustrações. Passei ali mesmo, no chão do pit-stop, a planejar o que faria de diferente no próximo projeto.”
Quando a determinação superou a pandemia, fez da dificuldade sua amiga
Em 2020, Gabrielly, como coordenadora de projeto, planejava com o capitão João Salgado a elaboração do protótipo da futura pedaleira, para que tudo estivesse pronto antes mesmo do carro, a fim de testar os mecanismos e checar os cálculos. Mas então chegou a notícia de que a Poli seria fechada devido à pandemia, e tudo mudou. Após reuniões com coordenadoria, diretoria e capitania, a decisão foi continuar os projetos em casa, com reuniões online. “A situação foi se complicando aos poucos, com alunos retornando às suas cidades de origem, alguns com familiares doentes, mas mesmo assim o projeto continuava. Aprendemos que a equipe não é composta por uma, duas ou três pessoas, mas sim por um conjunto de esforços.”
Durante a pandemia, surgiu a possibilidade de utilizar as oficinas e laboratórios em pequenos grupos. “Éramos uma equipe de 71 estudantes de diferentes áreas e anos de curso. Organizamos uma lista de disponibilidades para quem estava em São Paulo, pois muitos voltaram para suas famílias, o que reduziu o número de alunos disponíveis. Quando nos foi liberado soldar o chassi, por exemplo, não tínhamos ninguém na equipe com essa experiência, e não podíamos trazer pessoas de fora nem contratar, pois tudo estava fechado”. Como capitã do projeto, Gabrielly percebeu que soldar o chassi, estrutura principal do protótipo, seria um grande desafio. “Chamamos o ex-aluno João Guilherme, o “Baraldi”, para nos ensinar. Decidi aprender também, e, por fim, o chassi daquele ano foi soldado por mim e pelo coordenador”, conta. “Se eu, que já havia participado da equipe durante três anos anteriores, nunca havia soldado um chassi, imaginei como seria desafiador para os outros membros, que estavam começando.”

O resultado da participação da equipe na competição online de 2021 foi positivo. “Ficamos em terceiro lugar na classificação de uma das provas, fomos ao pódio pela primeira vez no Design, e, lembro que na prova que participei, ficamos em segundo lugar, empatados com uma das maiores campeãs. Conseguimos nos posicionar muito bem”, confirma a capitã. “Para mim, foi a melhor sensação do mundo termos conseguido participar daquele final”.
A grande lição: resiliência
Quando as aulas retornaram presencialmente, Gabrielly continuou como capitã. A fase de protótipo final trouxe muitos desafios, como incompatibilidades entre o CAD e o protótipo físico, problemas com o muffler e o amortecedor, entre outros. “O que o projeto Fórmula me ensinou e o que ficou para sempre em mim é que você não pode desistir, independentemente do que aconteça. O projeto me ensinou a não me desesperar, a entender que existem problemas que não são resolvidos rapidamente, mas que devem ser enfrentados. Desistir, nunca”.
A equipe continuou aprimorando seu desempenho, e na competição de 2021 a equipe Poli Racing Fórmula SAE ficou entre os cinco melhores carros. “Em 2019, enfrentamos muitas dificuldades, mas em 2020 já tivemos um desempenho um pouco melhor, e assim foi, melhorando a cada ano. A equipe começou a contar com uma legião de colaboradores, ex-membros que passaram a ensinar e transferir os conhecimentos adquiridos nas competições anteriores para os novos integrantes.”
Superando sucessivos desafios
Quando chegou a época de começar a estagiar, Gabrielly e outros colegas decidiram continuar colaborando com a equipe, organizando encontros quinzenais, treinamentos online e simulando o processo de avaliação utilizado pela SAE Brasil. O professor Marcelo Alves também participou das interações e sugeriu que agregassem o conhecimento da equipe do Baja. “Essa foi uma das maiores interações que tivemos. No projeto do Design, por exemplo, foi possível trocar experiências, feedbacks dos juízes, experiências valiosas pelas quais a equipe do Baja já havia passado”, recorda.

Gabrielly compartilha também como a equipe incentivava os novos integrantes a se engajarem, criando projetos paralelos, específicos para eles. Eram projetos que introduzia ao uso de novas ferramentas, mas para isso era necessário contatar membros mais antigos da equipe. Assim, os alunos conheciam outros integrantes, criando vínculos, o que não iria acontecer facilmente devido ao distanciamento social. “Essas iniciativas fortaleceram os laços entre os membros, geraram conhecimento e autonomia”, lembra.
Em 2022 veio o convite para estagiar na Empowering Tomorrow’s Automotive Software (ETAS). “A empresa, que era uma das patrocinadoras do projeto, acompanhava as competições e o engajamento dos alunos. O convite para o estágio surgiu dalí”, lembra. Gabrielly conta que o estágio era para ser de dois anos, mas ela foi efetivada em 10 meses.
O estágio e a contratação na ETAS deram a chance para Gabrielly atuar junto a grandes empresas do setor automotivo, nas áreas de motores, calibração de motor e fornecimento de ferramentas. “Levei toda a experiência do Fórmula para a parte de calibração de motores”, recorda. O estágio também permitiu que Gabrielly exercitasse o inglês, já que tinha uma chefia nos Estados Unidos e interagia com profissionais da Alemanha, Egito, Japão e Coreia, tanto com clientes como com as equipes de suporte técnico.
A dedicação é o que te leva longe
Em dezembro de 2024, quando terminou o curso de Engenharia Elétrica com ênfase em Automação e Controle, Gabrielly participou de um processo seletivo junto a Embraer – que ocorreu na própria Poli – para o cargo de Engenheiro de Desenvolvimento de Produto. “Durante a entrevista, assim como foi com o meu estágio, eu só falei do projeto. É difícil falar da Poli sem falar do Fórmula. Eu vivi o projeto Fórmula e a Poli era parte disso, não o inverso”. Gabrielly lembra que seu primeiro projeto no curso foi de Introdução à Engenharia e era um tema livre. “Eu de pronto elaborei a ideia de um projeto de câmera térmica para os pneus do Fórmula e sugeri para o grupo de colegas. Assim foi meu curso, com as matérias girando ao redor das necessidades do Fórmula”.
Para Gabrielly, cada um traz sua bagagem, vivência, e acaba tendo uma experiência única ao participar de um projeto. E esse conhecimento o vai ser útil no futuro profissional “Só um projeto te oferece isso. O pessoa perceberá que tem exemplos de liderança, criatividade, planejamento, e isso foi observado e comentado durante as minhas entrevistas”, acrescenta.
Agora, nos corredores da Embraer, Gabrielly tem a satisfação de encontrar com colegas do Fórmula, como o Vinícius D’Agosto, Wilhelm Vatanabe e Felipe Inohira. O Vinícius, que fora capitão do Fórmula, aquele que lá traz, na Semana dos Calouros, a convidou para checar a equipe do Fórmula pois precisavam de alguém da Elétrica. “Hoje o Vinícius é meu colega de trabalho. Criamos uma rede de networking, mas na verdade é uma grande rede de amigos, com interesses afins”, constata.
Não é por acaso que Gabrielly traz o slogan da Embraer em seu LinkedIn: We live by our dreams, and we dream big.