Blindagem sob medida: pesquisa da Poli-USP propõe padrão inédito para veículos civis no Brasil

Gazeta Mercantil DigitalEmpresas & Mercados – Da Redação – 07/07/2025

Apesar de o Brasil liderar o ranking mundial de veículos civis blindados, o setor ainda opera sem normas técnicas obrigatórias que padronizem o processo de blindagem. Essa lacuna foi o ponto de partida para a tese de doutorado do engenheiro Guido Muzio Candido, defendida na Escola Politécnica da USP, que propõe uma metodologia inédita para garantir segurança, funcionalidade e durabilidade em veículos blindados civis.

A metodologia, batizada de DfA2 – Design para Montagem e Blindagem, propõe uma revisão completa da cadeia de blindagem: do projeto técnico à montagem, passando por testes físicos e virtuais, rastreabilidade de materiais e entrega ao consumidor final. O objetivo é garantir que o processo preserve as funcionalidades originais do veículo e a garantia de fábrica, frequentemente comprometida nas blindagens atuais.

“Hoje, cada blindadora segue seus próprios critérios, sem necessidade de certificações técnicas ou automotivas. Isso pode afetar desde os mecanismos das portas até os sistemas de segurança como airbags e cintos”, explica Candido.

Riscos da ausência de padronização

Segundo dados do Sicovab, sistema do Exército Brasileiro, o país registrou 34.402 veículos blindados em 2024, sendo 84% no estado de São Paulo. A maioria passa por blindagem após a venda, em oficinas especializadas que desmontam parcialmente o veículo para instalar materiais como aço inoxidável, aramida e vidros balísticos.

Sem normas técnicas específicas, o processo pode comprometer a segurança dos ocupantes e a integridade do veículo. “É fundamental que as oficinas conheçam detalhadamente o projeto original do carro para realizar uma blindagem segura e eficiente”, reforça o pesquisador.

Testes práticos e simulações balísticas

A pesquisa contou com apoio do CNPq e envolveu empresas do setor em testes práticos e simulações balísticas virtuais. O estudo concluiu que investir em qualidade e padronização é mais econômico a longo prazo do que lidar com retrabalho, perdas e riscos de falhas na proteção.

Além dos veículos civis, a metodologia pode ser aplicada em viaturas policiais e governamentais, ampliando seu potencial de impacto no setor de segurança pública.

Blindagem como engenharia de produto

A proposta da DfA2 se alinha a práticas da indústria automotiva global, como a certificação ISO/TS 16949, e busca integrar o processo de blindagem ao ciclo de desenvolvimento de produto. “A ideia é tratar a blindagem como parte do projeto do veículo, e não como uma adaptação posterior”, afirma Candido, que tem passagens por empresas como BMW, Ford e Stellantis.

A tese de doutorado foi orientada pelo prof. Dr. Paulo Carlos Kaminski, também do Centro de Engenharia Automotiva da Poli-USP. Um texto mais detalhado e a íntegra da tese estão disponíveis no site do Centro de Engenharia Automotiva da Poli-USP.