Eletrônica embarcada responde por 90% das inovações tecnológicas em veículos

Engenheiro elabora projeto para Mestrado Profissional da POLI/USP que reúne o estado-da-arte da “inteligência embarcada” e aponta caminhos para popularizar os benefícios da eletrônica nos veículos brasileiros.

“Apesar de 90% das inovações tecnológicas em veículos serem provenientes da eletrônica, o tema ainda revela-se negligenciado no País, o que acarreta prejuízos de ordem econômica, além da perda de competitividade e atraso tecnológico”. É a partir desta constatação que o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Cantec (empresa que desenvolve sistemas automotivos eletrônicos), Iannis Nicolaos Papaioannou, decidiu aprofundar o assunto em seu projeto de conclusão do curso de Mestrado Profissional em Engenharia Automotiva pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). O trabalho contou com a orientação do prof. Dr. Lucas Moscato.

Na dissertação “Estudo da Eletrônica Embarcada e sua situação atual no Brasil”, o engenheiro procurou chamar a atenção sobre a importância do uso da eletrônica nos veículos brasileiros. “Por aqui, os benefícios da eletrônica ainda são desconhecidos pelo consumidor final, que associa o tema a itens de luxo” , comenta o engenheiro. Sem informação adequada, o proprietário de um veículo nem imagina que diversos aspectos importantes para o seu conforto e segurança envolvem a eletrônica embarcada como, por exemplo, o trem de força (PowerTrain), os sistemas de segurança passivos (air bag, detecção de ocupante, verificação de proximidade…) e ativos (freios ABS, entre outros), os aspectos de conforto e conveniência (iluminação, ar condicionado, módulos de porta), a alimentação em 42V (bateria, alternador e motor de partida…) e também no que diz respeito ao Infotainment, que são sistemas de informação e entretenimento que incluem painel de instrumentos, sistemas de áudio e de navegação, telemática (novo canal de informação entre base e auto) etc.

Segundo Iannis Nicolaos, a eletrônica embarcada vem sendo bem utilizada pelos fabricantes de veículos no que tange a redução de emissões; melhoria da economia de combustível; diferenciação do produto em questões de segurança e conforto; redução dos custos de manutenção, entre outros aspectos. Do outro lado do mercado, do ponto de vista do consumidor de veículos populares e médios, a eletrônica embarcada sofre com o preconceito do desconhecimento de suas aplicações e, conseqüentemente, do possível aumento de custo. “Um fato que ocorre com freqüência é que, após a retirada do veículo da concessionária, a primeira iniciativa do proprietário é a de adquirir um aparelho de som, após o seguro do automóvel, é claro, cujos valores somados ultrapassam o de um sistema ABS e de airbag”. O autor comenta que, por falta de divulgação da importância da eletrônica embarcada, há uma grande desconfiança do uso desta tecnologia. “Quando as pessoas percebem as vantagens de determinados dispositivos, elas mostram-se dispostas a investir mais no automóvel. Veja o caso dos motores convertidos para gás. O mercado compreendeu a economia e hoje é um produto bem aceito”.

Estudo de Caso: o sistema de freios ABS

Iannis escolheu o sistema ABS como estudo de caso para a sua pesquisa sobre eletrônica embarcada. Segundo ele, o brasileiro não tem informações sobre a importância do ABS e, quando vai adquirir um veículo, não faz questão do item. “O ABS, definitivamente, não pesa em sua decisão de compra”, revela Iannis Nicolaos Papaioannou. De acordo com estudo da National Highway Traffic Satefy Administration (NHTSA), o dispositivo ABS reduziu em 14% o envolvimento em colisões e em 24% os acidentes fatais. A Association of German Insurance Business, da Alemanha, aponta que o percentual de veículos com ABS naquele país chega a 92%; na América do Norte o sistema está presente em 74% dos veículos; no Japão em 62%; e no Brasil em apenas 3% da frota. Segundo o profissional, desde 2005 todos os veículos dos países europeus já saem de fábrica já com o dispositivo.

O engenheiro estima que o sistema ABS acarrete cerca de R$2 mil a R$3mil de aumento no custo final de um veículo nacional, mas à medida que o item de segurança se tornar obrigatório e for adotado em grande escala pelos fabricantes, o valor poderá cair bruscamente, chegando a R$300 ou R$400. Segundo ele, os acidentes de trânsito geram impactos na vida e no bolso dos brasileiros: “Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada apontou que o País gasta R$ 5,3 bilhões anuais, só nas áreas urbanas”.

O profissional acredita que a informação é o melhor caminho para corrigir alguns preconceitos que o consumidor final tem sobre alguns temas. “O custo de implementação do sistema ABS não é tão elevado se considerarmos os benefícios que ele pode proporcionar”, justifica Iannis Nicolaos Papaioannou. O autor defende a importância de uma maior divulgação sobre o tema. “A mídia poderia simular situações que valorizem a questão da segurança do veículo e desmistifiquem a idéia de que a eletrônica embarcada é um item de luxo”.

No Brasil, a maioria dos cursos de graduação trata o tema superficialmente e são raros os cursos de eletrônica com ênfase em automotiva. O mestre da Poli/USP sugere, além da participação das universidades e da mídia, um envolvimento maior das entidades de classe na divulgação do tema.


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