Professor da Poli-USP é peça-chave na história do Simea e da engenharia automotiva nacional

Coordenador técnico do evento Simea 2025 compartilha quatro décadas de contribuição à engenharia automotiva brasileira

Nos dias 13 e 14 de agosto de 2025, a cidade de São Paulo sediará mais uma edição do Simea – Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). Com o tema “Tecnologia e Mobilidade: futuro inteligente e sustentável”, o evento espera reunir cerca de 1.500 participantes e contará com a apresentação de 60 trabalhos técnicos, selecionados entre 110 submissões, além da publicação oficial da coletânea pela Editora Blucher.

O que poucos sabem, no entanto, é que grande parte da credibilidade e solidez técnica do Simea é resultado de um trabalho de bastidores liderado, há décadas, pelo professor Dr. Ronaldo de Breyne Salvagni, atual coordenador do comitê técnico do evento. Engenheiro naval por formação e professor senior da Escola Politécnica da USP, o professor Ronaldo foi peça-chave na aproximação entre o meio acadêmico e a indústria automotiva brasileira desde os anos 1980.

Prof. Dr. Ronaldo Breyne Salvagni

Um nome por trás da história da engenharia automotiva no Brasil

A trajetória do professor Ronaldo Salvagni se confunde com a própria história da AEA e da SAE no Brasil. Nos anos 1980, em meio às transformações impulsionadas pelo Proálcool – programa de incentivo ao uso do etanol como combustível, que completa 50 anos em 2025 –, o então jovem professor foi convidado a representar a Poli-USP na recém-criada AEA. Mais tarde, tornou-se também representante da Poli-USP que – junto a Mauá e a FEI –, veio a participar das novas iniciativas (mini Baja, congresso, etc.) da recém-criada SEA Brasil.

Desde então, Salvagni participou ativamente da formação de um ecossistema técnico e acadêmico voltado ao fortalecimento da engenharia automotiva nacional. Foi presidente do Conselho Diretor da AEA por dois mandatos, liderou comitês, participou de visitas técnicas internacionais, e  desde o ano de 2008 vem coordenando dezenas de edições do Simea. São 17 anos de ações visando o crescimento da engenharia automotiva brasileira.

Um dos marcos de sua atuação foi a articulação para a criação da área de Engenharia Automotiva na Escola Politécnica da USP, nos anos 1990, inspirada em modelos como o da RWTH Aachen, na Alemanha. A iniciativa culminou na implantação do Mestrado Profissional em Engenharia Automotiva, com forte atuação em problemas reais da indústria. “Foi uma época muito interessante para a engenharia brasileira. Os alunos, ao concluir os cursos, começaram a ser reconhecidos globalmente e convidados a trabalhar – em cargos de liderança – em centros de desenvolvimento tecnológico recém criados no Brasil e no exterior”, relembra o professor.

Inovação, política industrial e futuro do setor

Ao longo de quatro décadas, Salvagni acompanhou de perto as macrotendências da indústria: a consolidação do etanol como solução viável e de independência às flutuações políticas, introdução dos motores flex, o avanço da eletrônica embarcada, a ascensão dos veículos híbridos e elétricos, e a lista segue. Ele reconhece o papel da engenharia nacional nesse percurso, mas aponta entraves que ainda limitam o protagonismo do Brasil.

“O Brasil está entre os 10 maiores produtores de veículos do mundo, mas continua sem uma política de exportação consolidada. Não faltam talentos — falta visão estratégica de longo prazo”, avalia.

Segundo o professor, a inovação no setor automotivo quase sempre responde a pressões externas, seja econômicas, ambientais ou regulatórias. Ele relembra, por exemplo, que foi a crise do petróleo nos EUA nos anos 1970 que forçou a indústria a repensar o consumo dos motores V8 e V12. No Brasil, o Proálcool foi exemplo de como um movimento interno pode gerar inovação com impacto global.

Simea 2025: rigor técnico e futuro sustentável

Um dos diferenciais do Simea, destaca Salvagni, está no rigor da seleção técnica dos trabalhos apresentados. As comissões técnicas — criadas por sugestão do próprio professor — reúnem profissionais com mestrado ou doutorado, ou ao menos 8 anos de experiência em áreas como emissões, powertrain, digitalização, segurança e mobilidade autônoma. O Simea contou, para esta edição do evento, com a colaboração voluntária de 63 especialistas.

Os melhores trabalhos técnicos, que passaram pelo crivo das comissões técnicas, são premiados, com base nas notas dos avaliadores, do presidente de sessão e do público. Para esta edição do evento foram recebidos 110 papers, sendo aprovados para exposição no evento os melhores 60, e mais 30 serão acrescidos para a edição dos Anais do evento, que será publicada pela editora Blucher, usual parceira da AEA. Neste ano, a Escola Politécnica participa com seis papers, e é a segunda colocada em termos de número de trabalhos aprovados.

“O evento é uma vitrine do que há de mais atual em pesquisa aplicada no setor automotivo, e apresenta globalmente a sólida capacitação engenharia automotiva no Brasil e no mundo”, afirma o coordenador técnico.

Legado

Aos olhos do público, eventos como o Simea acontecem em dois dias. Mas nos bastidores, décadas de articulação e influência na área técnica, credibilidade e respeito pela engenharia brasileira sustentam cada decisão. O professor Ronaldo Salvagni é um dos nomes por trás dessa história, e segue acompanhando o presente, com olhos no futuro (principalmente da IA).