Veículos autônomos: qual o futuro deles?

Por Marcelo Augusto Leal Alves*

A respeito do futuro dos veículos autônomos, duas notícias recentes nos indicam que há ainda um
longo caminho a percorrer.

Em março deste ano, nos EUA, uma pedestre foi atropelada e morta por um carro autônomo em
testes. Evidentemente, os veículos autônomos ainda necessitam de maturação. A expectativa de
um tráfego sem mortes é de certo utópica, uma vez que máquinas falham e certamente veremos
ainda muitas falhas, principalmente neste período de desenvolvimento.

O acidente pode ter sido originado no sistema de visão. Tal como um motorista humano, o veículo
autônomo precisa “ver” os arredores. Mas como garantir que os sensores serão capazes de
detectar todo e qualquer tipo de obstáculo em todas as possíveis condições de iluminação? Não
há como garantir sensores absolutamente 100% eficazes sempre.

Outra possibilidade de problema está no software que interpreta os sinais dos sensores e então
comanda os mecanismos do veículo de modo que não ocorra um acidente. Sua implantação é feita
principalmente por “machine learning”, um tipo de inteligência artificial: o software é capaz de
aprender a reconhecer padrões (por exemplo, sinais de trânsito) e situações limite, e tomar as
ações devidas relacionadas a cada padrão para evitar colisões. Trata-se de um sistema
computacional complexo, que ainda está em desenvolvimento. Sabe-se que este tipo de algoritmo
é eficaz em detectar padrões dentro do domínio de aprendizado, mas não é tão eficaz quando a
situação presente não se enquadra exatamente no conjunto das situações vistas.

A outra notícia a que me referi no começo do texto é o escândalo de uso de dados pessoais por
uma rede social. Ora, que impacto pode ter no tema veículos autônomos? Estes são
“computadores sobre rodas”, que estarão conectados em rede, trocando dados entre si e
armazenando no seu interior. Entre outras informações, os dados contêm todos os hábitos de
circulação do usuário. Quais os destinos, horários, trajetos… informações em princípio privadas,
que podem ser usadas de modo errado contra o usuário ou que ele não gostaria de compartilhar.

Não existe segurança total para computadores que estejam em rede e trocando informações. O
veículo autônomo pode receber dados espúrios e mesmo vírus que comprometam seu
funcionamento e segurança. Um computador único que controle as minúcias do comportamento
de todos os veículos não parece viável. Entretanto, um cenário perfeitamente possível é a frota ou
parte dela receber um comando externo para, por exemplo, não trafegar acima de certa
velocidade ou em determinada via. Como garantir que o veículo é de fato autônomo?

Apesar dos riscos e desafios, é muito pouco provável que o desenvolvimento dos veículos
autônomos seja abortado. As perspectivas de melhora na segurança são reais. As máquinas não
têm os maus hábitos dos humanos e, por não terem arbítrio, fazem apenas o que lhes foi
programado. Já nos veículos de hoje é possível contar com automação que aumenta a segurança,
como, por exemplo, os dispositivos de frenagem automática diante de obstáculos. Uma redução
efetiva no número de mortos e feridos no tráfico, a tal ponto destes casos se tornarem raros – como são os acidentes aéreos – fará com que o público aceite que “não tem ninguém guiando o
carro”. Entretanto, devemos olhar com cuidado toda e qualquer tecnologia nova. Os efeitos de
uma tecnologia dependem das intenções daqueles que a usam e controlam. É neste ponto que
reside o futuro do carro autônomo e seus efeitos sobre todos nós.

 

*Prof. Dr. Marcelo Augusto Leal Alves é integrante do Centro de Engenharia Automotiva da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP)

**Este artigo foi publicado originalmente na Revista CNT – Confederação Nacional do Transporte – edição impressa de abril de 2018


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